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Mostrando postagens de março, 2014

A imprensa que referenda o preconceito contra gatos

Reproduzo aqui o protesto que deixei registrado em relação a comentário preconceituoso contra GATOS expressado por dois jornalistas/radialistas da Rádio Gaúcha, em Porto Alegre, na programação de sábado, dia 15 de março de 2014, pela manhã. CHEGA DE ÓDIO CONTRA GATOS!!!  "Concordo plenamente com o comentário de Daniela Faber! Sou jornalista, iniciei carreira no RS e sou radicada em SC desde 1996. Ouvi estarrecida os coment ários preconceituosos contra gatos no programa do Wianey, na manhã de sábado. Tinha acabado de chegar a Porto Alegre em visita! Cheguei a ligar para a produção, me identifiquei como jornalista, mas a moça que atendeu nem se deu ao trabalho de anotar o nome e telefone para dar retorno! Argumentei que o ódio aos gatos existe desde a Idade Média, herança pérfida da Inquisição, o que estimula para que sejam até hoje covardemente torturados e mortos, pelo simples fato de terem nascido gatos! Quem se diz "jornalista" não pode usar a latinha de forma irrespon

O festival de rock e as baratas kafkianas

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Depois de ser marcado, desmarcado e marcado novamente, finalmente o festival que reunia os roqueiros da região saiu numa enganosa tarde de primavera, que já de cara feia, anunciava o que a maioria esperava: uma chuva copiosa no início da noite. Adriana esperava ansiosa desde o ano passado por aquele momento.  Naquele dia, mais de uma vez revisou o vestido pretinho básico e as botas de cano alto com fivelas prateadas que iria usar à noite. O lápis preto em volta dos olhos combinava com o efeito punk que pretendia dar ao seu visual. Mais uma revisada no espelho e pronto: estava preparada para reencontrar a galera e curtir o som do festival. Afinal, soube que seria a última vez que o Parque de Eventos abriria as portas, e tinha que aproveitar! A caminho do evento, em plena rua Walter Marquardt, dezenas de jovens seguiam em direção ao mesmo destino, debaixo de chuva, se abrigando aqui e ali debaixo das marquises, rindo, fumando e bebendo, despreocupados da vida e do amanhã. Ao

Ela chegou!

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O canto alegre e encantador dos pássaros e o colorido e o aroma das flores marcaram a chegada da estação mais festejada do ano. Inspiradora de poetas, artistas, de apaixonados e dos românticos incuráveis a Primavera finalmente chegou, no meio da manhã! Paciente, a estação mais florida do ano até esperou que a chuva derramasse suas últimas gotas e que se derretessem as últimas nuvens... O céu se pintou todo de azul, e até as folhas se apresentaram muito mais verdes, sacudidas pela brisa, como se dançassem, para lá e para cá. Com a ajuda do sol, o astro-rei que ilumina tudo à sua volta e tem o poder de aquecer o mais empedernido dos corações, a estação mais linda do ano abriu seus braços generosos e recepcionou a todos com um largo sorriso! O dia se mostrou resplandecente, como um grande painel criado pelas mãos talentosas de um pintor. Uma aquarela perfeita, formada pelas múltiplas cores da natureza, em todos os seus nuances! Dona Álida até esqueceu de reclamar da bag

CONTOS DE SOLIDÃO - O órfão e o almoço de Natal

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A vidraça quebrada da janela do orfanato mal conseguia conter a água da chuva que invadia o alojamento dos meninos. Os pingos se confundiam com as lágrimas de Ângelo. O mundo lá fora causava uma inquietação indefinível para ele, misto de esperança e medo. Ângelo sempre ficava imaginando como seria ter o carinho de uma mãe e um pai, longe da rispidez dos monitores, que mais pareciam generais comandando suas tropas. Lembra também do pavor que desde os quatro anos o acompanha, toda vez que atravessa os corredores escuros do orfanato, ou quando está dormindo no beliche. Já haviam se passado seis anos, mas parece que foi ontem que viu seu amigo José ser atacado por um monitor no meio da noite. Não consegue esquecer a visão terrível do amigo, que gemia baixinho e se debatia inutilmente enquanto era violentado, enquanto imperava o mais completo silêncio no alojamento. Desconfia que todos fingiam nada ver, seja por covardia, indiferença, medo, ou por uma espécie de consolo cruel, p

CONTOS DE SOLIDÃO - O ano novo de Dorothy

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Dorothy decidiu pegar a estrada antes do sol raiar. Nada a impediria. Não hoje. Não agora. A maior parte da família e dos amigos foi trabalhar na cidade. Tinha que aproveitar que a tia estava dormindo e o galo ainda não tinha cantado... O ano estava quase terminando e o tempo se esgotando! Começou a jogar algumas roupas e calçados dentro do mochilão. Não esqueceu do protetor solar e do repelente de insetos, nem de levar as economias guardadas debaixo do colchão... Riu. O esconderijo era tão óbvio que dificilmente um ladrão procuraria ali... Pouco antes de sair e fechar a porta (com todo o cuidado, para não acordar a tia!), pegou o porta-retrato da sala, daquele Natal em que todos estavam reunidos, deixou um bilhete em cima da mesa de jantar e se foi. Ainda deu uma última olhada para a casa, o jardim.... Sentiu um aperto no peito e os olhos marejarem quando lembrou das duas décadas que passou ali, das boas lembranças e até das ruins, que a alquimia da vida transformou em aprend

CONTOS DE SOLIDÃO - Castelo de Areia

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É inverno. Chove e faz frio. Tempestade. Raios. Trovão. Dia que se faz noite. Vento forte que sacode a aldeia. Choro. Castelo de areia desaba no chão.

CONTOS DE SOLIDÃO - A cerimônia do chá

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A sala estava impecavelmente limpa e arrumada. Quatro horas de preparação até a chegada daquele momento. O tatame estava precisamente no meio do recinto. Um quadro com ideogramas japoneses e um vaso de ikebana, com flores, folhas, galhos, frutos e plantas secas adornavam o lugar e transmitiam uma sensação maravilhosa de bem-estar. Tudo lá foi arranjado, meticulosamente, para conduzir à harmonia, respeito, pureza e tranquilidade. Lá fora, o sol começava a se despedir com o cair da tarde, mas seus raios ainda atravessavam timidamente as persianas de madeira. Emanavam calor na medida certa. Eis que chega a tão aguardada cerimônia do chá. O convidado entra no recinto, não sem antes tirar os sapatos, para depois se ajoelhar no tatame, com uma reverência de cabeça. Ele está nervoso, suas mãos tremem. Do outro lado, à sua frente, a anfitriã repete seu gesto e o ritual começa quando ela serve um doce num guardanapo ao convidado, que sorve cada pedaço, sem pressa. Por um longo moment

CONTOS DE SOLIDÃO - O dragão de cera

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Mar revolto. Barcos multicoloridos que balançam com as ondas.  Dragão de cera na areia mágica dos ancentrais. O frio e a chuva não atingem a quentura do meu coração. Mar que traz, mar que leva… Mar que enleva… Sopro de saudade carregado pelo vento. Pisadas na areia que a onda dilui. Momento mágico gravado na memória que transcende o tempo e o espaço. Agradecimento profundo da alma.

CONTOS DE SOLIDÃO - A árvore centenária

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Todos os dias, quando chegava a noite, Sofia se sentava de frente para a grande árvore, do outro lado da calçada. Da varanda da casa, ela admirava a imponência daquele ser vivo, tão altivo, corajoso e saudável em meio à selva de pedra. “Com certeza, tinha sido plantada há mais de 100 anos!”, pensava. Gerações chegaram e se foram, e lá estava ela, grandiosa, firme, impávida… Quando chovia, as folhas verdes ganhavam uma aparência envernizada, de tão brilhantes, e as gotas de água mais pareciam pedras preciosas. A cada outono, o número de folhas amarelecidas se misturava com as verdes. E quando a enxurrada inundava a rua e arrastava tudo o que via pela frente, algumas folhas caíam como cascata e cobriam o chão. Mais parecia um tapete bicolor a contornar o grande tronco. Eram nesses momentos que Sofia ficava acompanhando a ação da chuva e do vento, que sacudia os galhos para lá e para cá. Os galhos sempre conseguiam segurar a maior parte das folhas. O ruído lembrava o farfalha

CONTOS DE SOLIDÃO - O homem sem braço

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Enquanto capinava vigorosamente e retirava as ervas daninhas que insistiam em nascer no pátio, com o único braço de que dispunha, o direito, João ficou lembrando do tempo em que podia tudo, sem restrições. A alta estatura e o porte atlético sempre garantiram o seu sucesso com as mulheres. Ele completava os atributos físicos com um largo sorriso e constante bom humor. Foi aos 28 anos que conheceu Valdete, moça bonita, tímida e de boa família, e se apaixonou. Não demorou muito e eles começaram a fazer planos para o futuro. Em menos de um ano se casaram, e o primeiro filho, Leandro, nasceu sete meses depois. João era respeitado na fábrica. Sua força física e dedicação ao trabalho o faziam um dos melhores operários do setor de auto-peças. Era um dos que mais produzia na seção onde trabalhava, e para ele não tinha tempo ruim. Tudo isso até o dia em que prendeu o braço esquerdo na máquina e quase perdeu a vida. A partir daí, tudo mudou. Foi aposentado por invalidez e teve de a

CONTOS DE SOLIDÃO - A maçã do amor

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A tarde ensolarada e amena de outono atraiu toda a cidadezinha do interior para o parque municipal. Cercado de um imenso e paradisíaco lago, não faltavam peixes, patos e aves aquáticas. E como se não bastasse, era o Dia dos Namorados. Os casais passeavam e procuravam aproveitar o bom tempo para caminhar, fotografar e se refugiar embaixo das árvores, em busca de um pouco de intimidade. De tão belo, até lembrava um quadro de Monet… Gerações inteiras se espalharam pelo parque. O corredor de final de semana e a praticante de trekking se movimentavam concentrados, alheios à poesia do momento. Destoavam, por que não foram seduzidos pela informalidade e descontração do ambiente. Com expressões sérias, mesmo usando abrigo e tênis, mantinham a postura formal do escritório, ou seria do consultório?…  As crianças faziam a festa correndo pela grama, para desespero dos pais, que temiam a proximidade da lagoa. Cães com pedigree, segurados por seus donos, e simpáticos vira-latas também aprov

CONTOS DE SOLIDÃO - O discípulo e os três cavaleiros

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Determinado em encontrar o caminho da Iluminação, o jovem Silas deixou seu país de origem, o Brasil, e decidiu empreender uma longa jornada até o Tibete. Foram dois anos de privações e de economia” franciscana” para reunir os recursos necessários. Depois de muito viajar, chegou o momento de subir o topo da montanha que o levaria ao monastério. A íngreme subida começou no lombo de uma mula, e nos últimos metros, a pé.  Finalmente, Silas consegue chegar à presença do Mestre. Emocionado, o jovem cai de joelhos e chora. Com a serenidade peculiar de quem domina o conhecimento das forças universais e terrenas, o Mestre fez Silas se levantar e contar do porquê de sua visita. - Estou nesta busca desde pequeno! Já estudei todas as religiões, pratiquei algumas por um certo tempo, mas nenhuma me deu as respostas que eu procuro. Diga-me Mestre, o que preciso fazer para encontrar a Iluminação? - Em primeiro lugar, você deve começar uma jornada rumo ao Leste, que durará 90 dias. Nesse

CONTOS DE SOLIDÃO - Crime passional em dois atos

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Ato I O sangue estava empoçado em volta dos corpos do casal. Quinze facadas se sucederam e calaram o choro, os gritos e a infelicidade da mulher. Uma faca de ponta afiada estava no meio dos corpos. O último ato: a faca ensanguentada depois da auto-degola do marido. Ato II Almas separadas, corpos unidos. A morte chegou e levou a dor.

CONTOS DE SOLIDÃO - O lago

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A cabeça de Norton lateja tanto que parece que vai estourar. Suas mãos tremem e seu olhar est á perdido no infinito. Mil imagens aparecem e desaparecem em sua mente. O coração parece que vai saltar pela boca, de tanto que ele correu aquela noite. A camisa está ensopada de suor, e as idéias estão desconexas. Lágrimas copiosas começam a cair. Sacudido pelos soluços, o jovem esconde o rosto entre as mãos e fala baixinho, como a sussurar para si mesmo: E agora?!... A noite pareceu interminável para ele, até que a luz do dia iniciou timidamente o lento desvendar da escuridão, tornando as formas mais nítidas, e o lago ainda mais azul. O parque pouco a pouco descortina seus habitantes, de mendigos e andarilhos, que parecem se assustar com a chegada dos raios solares. Alguns ainda dormem, sucumbidos pelo sono, ou pela cachaça da noite anterior. Outros se esforçam para levantar, e, ainda trôpegos, procuram com dificuldade coordenar as pernas. Nenhum dos excluídos parece se impor

CONTOS DE SOLIDÃO - Dona Esperança

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Sentada no piso frio da calçada de uma das principais ruas da capital, dona Esperança podia ver todos que passavam na altura da cintura. Desde os mais apressados, a caminho do trabalho ou de casa, carregando os filhos ou sacolas pela mão, até os que passavam sem a mínima pressa, arrastando os pés. Os cabelos semi-grisalhos, as rugas profundas, a obesidade e a aparência geral de desleixo não são um mero artifício para pedir esmolas. Ela realmente está ali para mostrar seus pés disformes, cheios de feridas, que de tão grandes chocam os passantes mais sensíveis. Ao mesmo tempo que causa olhares de repulsa em alguns, ou de indiferença, em outros, é com a piedade dos passantes que ela conta para sobreviver. Para ela, que se apega àquela vida miserável com unhas e dentes, sem ao menos entender a razão, algumas poucas moedas podiam significar um café com leite, acompanhado de um sanduíche, nos dias de maior sorte, ou mesmo um pão com manteiga para aplacar a fome. Uma fome que atravessava

CONTOS DE SOLIDÃO - O choro do inocente

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O parto foi muito difícil. Joana sentiu contrações horríveis, e a dilatação alcançou seu ponto máximo. O médico do SUS insistiu para que seu parto fosse normal. Ela sempre quis ser mãe, todo mundo sabia disso! Olhava os três filhos da vizinha e pensava que seu dia iria chegar. Só não esperava que aquele "cachorro" do marido fosse se engraçar com a secretária, justamente quando mais precisava dele, no oitavo mês de gravidez!... E agora ela estava ali, completamente sozinha, na sala de parto... Parecia um pesadelo, mas era a mais pura realidade! Involuntariamente, enquanto aguardava pelo obstetra de plantão, há uma hora atrás, lágrimas escorreram pelo seu rosto, que ela cobriu com as mãos. Finalmente chegou o médico, visivelmente contrariado por ter interrompido seu almoço de domingo com os amigos... Ele nem se sensibilizou com os olhos inchados da parturiente, nem com o desencanto de seu olhar. Quanto antes ele terminasse aquilo tudo, melhor para ele!... A dor se t