A visão do caingangue
Era noite fechada. A floresta escura contrastava com a luz das estrelas, que piscavam como diamantes. A lua cheia fazia clarões em alguns pontos da mata e um ouvido mais atento podia distinguir os sons produzidos pela coruja, pelos sapos, feras, macacos e grilos. O ruído das folhas podia ser resultado da ação do vento, mas também de algum animal selvagem, ou ainda de uma serpente venenosa, pronta para dar o bote... até mesmo de um inimigo, de alguma tribo rival. Todo o cuidado era pouco para transitar pela floresta depois do entardecer. Mesmo para um índio experiente como Kaloré, que na linguagem dos caingangues quer dizer “campo das árvores pintadas”, tinha de ficar esperto. Não por acaso, transitar pela mata era uma das atividades mais prazerosas de sua vida. Nem se importava com os perigos. “Viver é correr riscos”, dizia. Enquanto o vento de outono soprava e agitava as folhas, uma coruja se mantinha imóvel, porém vigilante, na parte mais alta de uma embaúva. Seus olhos...