Os crimes anunciados

Toda a vez que a imagem do menino Bernardo aparece na mídia, a revolta das pessoas é unânime. Não há quem não se manifeste a favor de penas duras para o pai, o médico Leandro Boldrini, a madrasta, Graciele Ugulini, e a amiga dela, Edelvânia Wirganovicz, e o irmão, Evandro Wirganovicz, suspeitos de terem planejado e executado um dos crimes mais bárbaros dos últimos tempos no Brasil. Frases como “Que horror!”, “Coitadinho do menino!“, “Esses aí têm que apodrecer na cadeia!” e “Justiça contra os assassinos de Bernardo” são as mais comuns.

O estudante gaúcho, que deu inúmeros sinais em vida de que estava sofrendo com a indiferença e o desprezo com que era tratado em casa, tentou desesperadamente que alguém o resgatasse, mas ninguém moveu uma palha sequer para salvá-lo.

A empregada, parentes, vizinhos e amigos garantem que “não imaginavam” que um pai, que exerce uma profissão comprometida em salvar vidas, arquitetasse algo tão monstruoso. Se é que se pode chamar de “pai” e de “médico” um homem supostamente capaz de tanta frieza e crueldade contra o próprio filho. Será, mesmo, que não imaginavam?!

Nos depoimentos prestados na delegacia de Frederico Westphalen, as testemunhas choraram e lamentaram profundamente o hediondo crime - possivelmente na tentativa de aliviar a culpa por nada terem feito em favor do menino, órfão de mãe e impedido de ver a avó – enquanto ainda era possível.

O “vil metal” falou mais alto na hora de decidirem pelo assassinato da criança, para impedir a divisão do patrimônio e até mesmo o pagamento de pensão alimentícia à avó. Isso sem falar na covardia dos que cercavam a vítima.

Em tempos de individualismo e insensibilidade extremos, atos de coragem pelo bem do ser humano são cada vez maios raros. E esse papel também cabe aos pais, que hoje parecem mais preocupados em criar filhos competitivos, instigados a serem “os primeiros” em tudo, a qualquer custo, em detrimento da ética e do caráter.

“O Disque Denúncia, no 181, é o canal para se registrar crimes e suspeitas de forma anônima”

O que mais se vê são pessoas que presenciam violências praticadas contra crianças, mulheres e idosos e que se calam, se omitem, fecham a porta e tapam os ouvidos. Indiferentes ao sofrimento alheio. “Não quero me meter, porque depois pode sobrar para mim!”, justificam. Quem já não ouviu essa frase?
Hoje temos do Disque Denúncia (181), que registra, de forma anônima, crimes de violência doméstica, sexual e abandono de incapaz, (crianças deixadas sozinhas em casa, negligenciadas, assim como pessoas com algum tipo de deficiência e idosos).

Está na hora da sociedade despertar e se posicionar, ter a consciência de que cada um tem que fazer a sua parte, exercer a cidadania. É o que se espera de uma sociedade organizada. Já dizia Martin Luther King: “O que mais me preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem-caráter, nem dos sem-ética. O que mais me preocupa é o silêncio dos bons”.




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