Crônica - O Livro Negro e a História
Primeiramente, a exemplo dos que republicaram o “Livro Negro da
Ditadura Militar” em 2014, para marcar os 50 anos do período de chumbo no
Brasil, me forço a esclarecer que não sou racista. Entendo que em 1972, por
ocasião da primeira edição da obra, esse título se torna compreensível. Hoje,
com os movimentos pela igualdade racial, ninguém mais associa a palavra “negro”
à crueldade e arbitrariedades relacionadas às torturas e mortes.
Como jornalista, sempre pautei minha carreira pelo sentimento
de responsabilidade
social, com a consciência de que a imprensa contribui para o registro histórico
da época em que atua. Por isso, confesso que me causou estranheza o fato do Jornal do Vale do Itapocu ter sido o
único veículo presente no relançamento da obra histórica, no sábado que passou,
na Câmara de Vereadores. Os demais vereadores também ignoraram solenemente o
evento.
É certo que o relançamento foi organizado por filiados e simpatizantes
do PC do B e do PT, mas acredito que avaliar o relançamento do “Livro Negro da
Ditadura somente por esse ângulo, é, no mínino, olhar pela superfície.
Eu mesma não sou filiada a nenhum desses partidos, mas fiz questão de
estar lá. Estávamos tendo a oportunidade de ouvir o outro lado da História do
Brasil - a versão que não é publicada nos livros e nunca vai aparecer em uma
sala de aula.
Em uma rede social, cheguei a expressar que considero um
privilégio o fato de Jaraguá do Sul ter sediado o relançamento da obra. Quero
ler cada página do livro, conhecer cada detalhe. É preciso que os brasileiros não esqueçam e
nunca mais cogitem colocar de novo os
militares ao poder. Quem fala isso, não conhece a nossa História!
Se hoje usufruímos da democracia
(ainda que com falhas!), devemos a essas pessoas, como Raquel e Divo Guisoni,
que resistiram, sobreviveram e estão aqui para testemunhar o que passaram. No meu entender, faltou sensibilidade dos que
não compareceram ao evento para entenderem essa dimensão.
Afinal, estamos falando de um período recente e vergonhoso da História! Ali estavam alguns dos que
sobreviveram às ditaduras do Brasil e da Argentina, pessoas essas que se
sacrificaram na luta contra a ditadura e se dispuseram a relatar um período
dramático de suas vidas.
“Se hoje usufruímos da democracia, devemos a
pessoas como Raquel e Divo Guisoni, que sobreviveram e estão aqui para
testemunhar”
Poucos dos presentes não se emocionaram ao ouvir a voz embargada de
Raquel Guisoni, quando contou as torturas físicas, psicológicas e sexuais a que
eram submetidas as mulheres durante o regime militar. Assim como da forma cruel
e desumana com que eram tratados os presos políticos, de maneira geral. Muitos
desapareceram sem deixar rastro, ou tiveram a real causa da morte mascarada em
“acidentes”, ou “suicídios”.
De tudo, ficou uma lição, que deveria estar bem clara na mente de
todos. Que não se repitam levantes como a “Marcha da Família”, felizmente sem
eco na sociedade brasileira, pela volta dos militares ao Palácio do Planalto.
Ditadura, Nunca Mais!
Deve ser um livro bem interessante e é sempre bom dar testemunho para que não haja esquecimento!!!
ResponderExcluirMuitos beijos!
Jorge Vicente
Com certeza, Jorge, é um livro interessante, histórico e comovente, do ponto de vista humano. Uma verdadeira aula de História do Brasil não autorizada... Beijos
ExcluirHistórias nefastas nunca tem q ser esquecidas. E devem de servir como exemplo para as novas gerações, para que elas não voltem a se repetirem. Oportuno teu comentário, Sônia.
ResponderExcluirObrigada, Isaac! Você captou exatamente a ideia, de que não se pode esquecer o mal que as ditaduras causam, para que nunca mais se repitam!
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