Crônica - Livros, livros, livros...

Menina ainda, sempre fui fascinada por literatura. Lembro que minha mãe desde cedo me incutiu o gosto pela leitura. Ela me trazia livros coloridos, fartamente ilustrados, com clássicos de Hans Christian Andersen, o papa dos livros infantis, e de Walt Disney. 

Mas tinha um livro que marcou especialmente a minha infância: Cinderela! Guardei por décadas aquele exemplar de capa dura e de lindas ilustrações. Ficava fascinada com a estória da princesa, da rainha megera e de seu espelho (“Espelho, espelho meu! Haverá alguém mais linda do que eu?”).
Tanto me marcou que até hoje consigo lembrar em detalhes de Cinderela no alto da torre, da chegada do príncipe Felipe, do beijo que a despertou de um longo e profundo sono. Aliás, foi inspirado nesse príncipe de contos de fadas que escolhi o mesmo nome para meu filho, anos mais tarde...

Um dos presentes que mais apreciei foi a coleção completa de Monteiro Lobato para crianças, antes mesmo de ser levado para a telinha da TV. Como era bom viajar no tempo e no espaço, embarcar nas fantasias e aventuras do sítio mais maluco do planeta, com a sabedoria de dona Benta, a cultura erudita do Visconde de Sabugosa, a delicadeza de Narizinho, a audácia e peraltice de Pedrinho... Sem falar na maluquete da Emília, que não tinha papas na língua na hora de se posicionar.

Gostava tanto de ler e escrever, mas tanto, que passei a escrever estorinhas infantis e as “vendia” para os integrantes da família. Até desenhava (muito mal, por sinal!). Era o jeito que tinha encontrado para conseguir uns trocados, afinal os tempos eram bicudos, como diria Mário Quintana... Uma vez, entreguei uma estorinha e meu pai chegou a duvidar que eu tinha escrito. Fiquei muito triste. Recentemente, ele me mostrou que ainda tinha guardado com ele, fato que me emocionou. Dessa vez, quando reafirmei que eu tinha escrito, de verdade, ele acreditou...

Veio a adolescência e os clássicos da literatura brasileira e portuguesa invadiram a minha vida! José de Alencar, Machado de Assis, Érico Veríssimo, Jorge Amado, Eça de Queirós... Me imaginava com um vestido longo, com chapéu e sombrinha, passeando pela Rua do Ouvidor... Emily Bronte, Charles Dickens, Alexandre Dumas, Júlio Verne... Lembro que na época, passava mais tempo na Biblioteca de Porto Alegre, ou em casa, lendo até tarde. Tímida, me refugiava nos livros.

E foi através dos livros que me fortaleci para enfrentar o mundo. Na alegria, ou na tristeza, os livros me levavam a um porto seguro. E até hoje é assim.
À medida que a vida foi avançando, os livros foram mudando. As obras passaram a ser técnicas, relacionadas à profissão, à pesquisa, ao faro jornalístico. Porém, mesmo nos momentos em que foi difícil conciliar trabalho, a criação do filho e a casa, a literatura sempre esteve próxima: é dela que renovo minhas energias, alivio e alegro o coração.

Em uma época em que estar conectado virou uma obsessão, não custa lembrar o depoimento de Bill Gates, um dos ícones do século 20: “Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever, inclusive a sua própria história.”

Comentários

  1. Boa tarde! Não estou recebendo os comentários postados aqui. Peço aos que já tentaram e não conseguiram postar comentários, que insistam e me comuniquem. Obrigada! :)

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