Crônica - Manifesto verde-amarelo

Quem me conhece sabe que não sou de posições extremistas. É verdade que evito discussões e polêmicas inúteis, principalmente quando envolve política. Tenho a minha posição, evidentemente, mas defendo o bom senso. Muitas vezes, “falar é prata e calar é ouro”, já diz o ditado... Um exemplo notório aconteceu recentemente, quando o País foi “dividido” entre eleitores de Dilma Roussef e Aécio Neves. As discussões acaloradas se transformaram em agressões pessoais. Com certeza muitas amizades saíram arranhadas, e até desfeitas, por conta da reeleição presidencial.

Vi estarrecida o Brasil cortado ao meio, com afirmações racistas e de ódio aos nordestinos, apesar dos números mostrarem que São Paulo, onde se concentra grande parte dos retirantes do Nordeste e seus descendentes, não ter aderido ao discurso Pró-Dilma, nem mesmo em Minas Gerais, onde o candidato tucano foi governador. Mas, radicais são radicais em qualquer circunstância...
Sou nascida no Rio Grande do Sul e há 20 anos estou radicada em Santa Catarina, mas nem por isso rejeito a diversidade colorida dessa nação continental, que encanta o mundo por suas manifestações culturais, notadamente nas áreas da música e da dança.

É um país de mazelas, sim! Enfrentamos uma corrupção endêmica, sim!  Aliás, não são poucos os que afirmam que a corrupção aportou em terras tupiniquins a bordo de caravelas do Descobrimento. Portanto, é um problema secular, que hoje se apresenta com o desvio de bilhões da estatal de petróleo que já foi apontada como um dos maiores orgulhos nacionais. Também é inegável que há muito a ser feito, muita sujeira a ser varrida por debaixo de tapetes de homens de colarinho branco. Tudo isso é verdade!

Mas se há algo que me tira a serenidade é ver brasileiros rejeitando a própria cidadania, negando a própria origem desse povo miscigenado, que do Oiapoque ao Chuí ainda nos dá motivos para bater no peito e dizer, em alto e bom som: eu sou brasileiro!

E isso vale para os descendentes de europeus e, principalmente, aos que vivem, ou já viveram lá fora. Sim, porque conheço amigos que vivem e que já viveram no exterior, mas que jamais rejeitam o carimbo da nacionalidade “brasileira” impresso no passaporte. Vivem lá, sim, mas estão permanentemente conectados, divulgando a singularidade da arte e da cultura brasileiras. Mesmo os que têm dupla cidadania e sobrenomes “estrangeiros”, tremulam a Bandeira do Brasil toda a vez que tem jogo na Copa (até mesmo após o vexame histórico de 2014, que nos deu sete motivos para chorar...).

Portanto, toda a vez que vejo brasileiros esnobes, arrogantes e “sem noção”, se posicionando com desdém em relação à própria cultura, seja em uma roda de amigos, ou em uma rede social, o desencanto toma conta de mim. São pessoas incapazes de valorizar uma manifestação popular, por mais bela e reconhecida que seja aos olhos dos demais. Se sentem parte da elite que não se mistura. Felizmente, nem todos que compõem a elite brasileira têm o mesmo tipo de comportamento. Pelo contrário. Há ótimos exemplos de cidadãos que têm olhares generosos em relação à surpreendente e original cultura brasileira, resultado da mescla de muitos povos. Ainda bem! 

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