CRÔNICA - A magia de Papai Noel

Era véspera de Natal. Eu tinha contado os dias para a chegada daquele momento. As luzes da grande árvore já estavam acesas e as bolas coloridas me fascinavam. A família estava toda reunida na sala, menos o pai Almerindo, que tinha saído e não chegou a tempo de ver a entrega dos presentes.

A campainha tocou e o Papai Noel entrou no nosso apartamento, com a máscara de pano, a roupa vermelha, a barba de algodão e as luvas brancas, que pareciam engomadas. Eu nunca esqueci daquela noite!
Sentia um misto de fascínio e temor, ao mesmo tempo, por aquela figura que chegou com o saco de presentes. Eu contava apenas seis anos, e tentava descobrir quem poderia ser por trás daquela máscara rosada. Meu irmão Renato (In memoriam), geralmente quieto e calado, também entrou no clima natalino, em que tudo é possível e todos se aproximam, sem diferenças.

Papai Noel sorria, uma risada engraçada. Ele perguntava como eu estava, se tinha sido boazinha o ano todo, essas coisas... Falava com carinho, até que tirou do saco de pano um pacote que fez meu coração bater mais forte. Era um pequeno piano, desses que tem o tamanho um pouco maior do que uma caixa de sapatos. Quanta alegria!

Pelos dias e meses seguintes, eu não fazia outra coisa a não ser sentar no chão e tocar. Apurava os ouvidos e tentava imitar os acordes que ouvia no toca-disco e na televisão, e às vezes até tinha sucesso, com as músicas mais fáceis de executar...

Muitos anos se passaram. As teclas não mais produziam o som de antes, que foi se perdendo até ficar mudo. O próprio piano de madeira foi ficando desbotado, até que tive de me desfazer de vez... Ia-se embora o piano, mas ficavam as lembranças, tão lúdicas, tão cheias de magia e encantamento...
Só muitos anos depois é que soube que foi o meu próprio pai, Almerindo José, sempre tão dedicado aos filhos, que fez o papel de Papai Noel naquela noite inesquecível! Foi aí que “caiu a ficha” do porquê ele não tinha participado com eles da festa natalina, e não pude conter as lágrimas de alegria...

Hoje, mulher feita, ainda lembro daquele Natal como se fosse ontem.
Outros natais vieram e se foram, a família se desfez, o irmão e os avós partiram para o andar de cima, e tudo ficou diferente... Mas não tenho a mínima dúvida: aquele foi o mais marcante Natal da minha infância!
Acima de tudo, ficou a mensagem de que todo o Natal pode ser o melhor, quando há amor e sentimentos plenos de união, que ficam impregnados nos corações das pessoas, não importa a época, não importa o lugar.

E mesmo entre os que não são cristãos, permanece uma certeza: do quanto é importante reunir a família à mesa, durante a ceia natalina, para celebrar a paz e o entendimento, reforçando os laços e superando as diferenças.


Feliz Natal para todos!

* Texto adaptado do original, publicado em dezembro de 2007, que integra o meu  primeiro livro solo, "Crônicas de Maria e outras tantas - Um olhar sobre Jaraguá do Sul". Na versão atual, me expresso na primeira pessoa e introduzi adequações.

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