CRÔNICA - A intolerância que abrevia vidas
“Uma vida
inteira pela frente. O tiro veio por trás.” O microconto de Cíntia Moscovich
sintetiza a comoção que tomou conta de Santa Catarina e do mundo desde a
terça-feira, com a morte prematura do surfista Ricardinho, aos 24 anos de
idade. Bastaram dois tiros, um deles
pelas costas e outro que atravessou vários órgãos internos, para ceifar brutalmente
a vida de Ricardo dos Santos. Mais uma vez, a intolerância se sobrepôs à razão
e ao bom senso, e uma discussão banal resultou em uma tragédia. Até quando
assistiremos esse tipo de barbárie?!
Os que
conheceram Ricardinho são unânimes em afirmar que ele não merecia esse fim. Do
olimpo do surf profissional, estrelas como Kelly Slatter e o brasileiro Gabriel
Medina, atual campeão mundial, não pouparam elogios ao catarinense apaixonado
pelas ondas gigantes. “Moleque gente boa”, “do bem”, “alegre, de bom coração e
de bem com a vida” são algumas das referências carinhosas feitas ao atleta das
águas, que essa semana foi homenageado no Havaí, a Meca do Surf, com uma roda
no mar formada por surfistas.
Legítima defesa? Pelas costas?!
O acusado
dos disparos, um policial militar que reconhece a autoria, alega legítima
defesa. Como assim? Pelas costas?! Essa não é a primeira vez (e com certeza não
será a última!) que um policial é acusado de abuso de autoridade.
A sociedade
catarinense clama por Justiça e pela investigação rigorosa dos fatos. Afinal,
os que usam uma farda da Polícia Militar e portam armas de fogo devem seguir os
princípios de honradez e de defesa do cidadão. Caso contrário, devem ser
exemplarmente punidos e banidos da corporação.
Que esse
triste episódio sirva de lição para todos nós! Vivemos uma época em que o individualismo e o ego
imperam nas relações humanas. O acirramento da competitividade ocorre em todas
as instâncias e compromete a vida em comunidade. Transformar uma divergência em
afronta pessoal, se deixando levar pelo descontrole emocional, é uma atitude
imatura que se contrapõe aos princípios básicos de civilidade.
Banalizar a
violência é retornar à barbárie, à era das cavernas. De nada adianta vivermos
na era da tecnologia se mantemos uma mentalidade de selvagens, não é mesmo?
Fica a reflexão.
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