Je suis Charlie na marcha contra o terror
O domingo de
11 de janeiro de 2015 entrou definitivamente para a História da França e do
mundo como um dos mais expressivos das últimas décadas. Foi surpreendente acompanhar
a Marcha Republicana, promovida pelo governo francês para pontuar a defesa do
direito de expressão e repudiar os atentados. Após uma semana trágica, que resultou em 17
mortes, a união venceu o medo e mostrou sua força.
Pelo menos
44 líderes internacionais compareceram ao ato de repúdio contra o terrorismo,
ao mesmo tempo que colocou, lado a lado, representantes de diversas etnias e religiões.
Superando diferenças, a Marcha reuniu cerca de um milhão e meio de manifestantes
e apresentou momentos especialmente emocionantes, como o abraço do presidente
François Hollande aos parentes das vítimas do jornal Charlie Habdo. O clima era
de comoção geral. Felizmente, sem nenhum incidente.
A frase Je suis Charlie (Sou Charlie) e os
lápis, material de trabalho dos três chargistas executados, tomaram conta das
ruas parisienses, de outras cidades francesas e de diversos pontos do planeta,
inclusive no Brasil. Como ficar indiferente a uma tragédia dessas?
Liberté, Egualité, Fraternité
Os ideais de
Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que remontam à Revolução Francesa, tão
desgastados nos dias de hoje, por conta das crises econômicas e conseqüente rejeição
aos imigrantes e seus descendentes, tal qual fênix, ressurgiram.
Não por
acaso, um dos policiais mortos pelos extremistas, que seguia o Islamismo, foi
homenageado durante a manifestação. Aliás, ao longo da semana, inúmeros líderes
islâmicos repudiaram e lamentaram as mortes. Nas redes sociais, seguidores do
profeta Maomé também garantiram que os crimes não foram cometidos em nome
deles. Eu mesma confirmei essa tendência de repúdio à barbárie praticada pelos
terroristas com um colega jornalista de Bangladesh, amigo virtual de uma rede
social, seguidor da religião islâmica.
Mas nem tudo
é unanimidade. Há também os que expressam a opinião de que os cartunistas
exageraram nas críticas à Maomé, assim como há os que generalizam em relação
aos islâmicos, com pré-julgamentos e preconceitos.
Discriminação
étnico-religiosa?
Não se pode
esquecer que os atos de terror do ano que se inicia foram praticados por
cidadãos franceses, treinados no Iêmen e que se voltaram contra o próprio país.
Especialistas em política internacional afirmam que por trás de tudo isso está
a forma discriminatória como os islâmicos e seus descendentes, de segunda e
terceira geração, são tratados na França. E que essa revolta, por se sentirem
marginalizados, abriu caminho para que os fundamentalistas islâmicos
conduzissem parte desses jovens ao terrorismo. É de se pensar...
Após esse
trauma profundo, que pode resultar em um divisor de águas, quem sabe a
sociedade francesa possa repensar a forma como trata os imigrantes e seus
descendentes, com igualdade de direitos e oportunidades? No país da Torre
Eiffel, talvez assim seja possível reviver, na prática, os ideais emergentes a
partir da Queda da Bastilha, que remontam ao século 18... Acima de tudo, que reine a Paz!
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