Crônica - O universo de Oliver

Oliver é um menino muito inteligente. Não somente inteligente. Ele também é observador. Ah, isso ele é mesmo! Nada escapa aos seus pequenos olhos negros. Enquanto seu irmão mais novo, Santi, centraliza as atenções com suas peraltices, Oliver sai de fininho, vai até o quarto, pega as peças de Lego e decide montar na mesa da cozinha. Cuidadosamente, examina peça por peça e vai tentando encaixar até formar novos itens. Ele adora montar cenários de heróis e suas batalhas, personagens que o transportam para lugares e épocas distantes.

O trabalho é minucioso e às vezes leva boa parte da tarde, até que ele consiga identificar e desvendar o divertido “quebra-cabeça”. Ele vibra toda vez que consegue e compartilha a vitória. - Consegui!, grita de alegria, com os olhos brilhantes.

E somente quando ele não consegue montar, depois de muitas tentativas, é que chama o pai Fabian e a mãe Yani, dois artistas da lapiseira e do nanquim. Geralmente, quando isso acontece, é porque uma ou mais peças se extraviaram...

Oli, como é chamado pelos pais, consegue entender tudo o que os pais dizem, ouve atentamente e sempre expõe suas opiniões, sobre os mais variados assuntos. Seja em casa, dentro do carro, ao observar a rua, ele está sempre com as antenas ligadas. Quando é vencido por Morfeu, o Deus do Sono, Oli dorme no banco de trás do veículo e só acorda em casa...

Esses dias fui visitar a família de Oliver. Inicialmente tímido, ficava me observando, possivelmente para descobrir quem era aquela turista que chegou para “bagunçar o coreto” e mudar toda a rotina da casa...

À medida que o tempo ia passando, Oliver ia se tornando mais falante e alegre. Se mostrava curioso sobre aquela visitante brasileira, falando aquela língua estranha, que se esforçava para ser entendida, misturando “portunhol” com italiano e português... Mas Oliver é um menino inteligente. Não somente inteligente. Ele também é observador.

No quarto que divide com o irmãozinho, tem um balão colorido pendurado no teto, que parece pronto para voar pelos quatro cantos do mundo.  Tudo o mais transpira ludicidade. Tão eu, tão mundo da lua... Os desenhos, os cartazes, a tela da televisão e o controle remoto do videogame o transportam para outras dimensões. Nessas horas, ele se concentra no jogo.

Manhã de sábado. Hora de ir às compras e de passear pelas calles simpáticas do bairro San Martin. Chuva inesperada. Nos abrigamos debaixo de uma marquise e ele dá uma das mãos para a mãe e a outra para mim. Lembrei dos tempos em que meu filho Felipe era pequeno... Depois fomos todos para Puerto dos frutos, o paraíso das compras, e ele quer chocolate branco a granel. Como dizer não?

No carro, de volta para casa, Oliver cai no sono e volto a segurar sua mão e a amparar sua cabeça, que pendeu no meu ombro. Na segunda noite que passei no lar de Oliver, peguei uma historinha infantil escrita em português e passei um desafio: de prestar atenção e repetir as palavras. Depois eu faria o mesmo, em espanhol. Ele se esforça e consegue repetir um a um dos vocábulos. E por acaso duvidei que ele conseguiria?


Hora da partida. Oliver vem junto para se despedir. Olho para ele, pela última vez, o abraço e me despeço, com o coração apertado. Oliver é um menino muito inteligente. Não somente inteligente. Ele também é bem observador. Oliver, você me cativou!

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