Catar e o outro lado do paraíso

Uma das nações mais ricas do mundo, agraciada com o petróleo e o gás natural, que deixa os visitantes de queixo caído com a suntuosidade de seus arranha-céus futuristas, joias arquitetônicas edificadas com o que há de mais contemporâneo e tecnológico. Esse é o Catar (ou Qatar), país do Oriente Médio cujo território se divide entre deserto árido e uma longa faixa litorânea no Golfo Pérsico.

Inegavelmente, o país que está sediando a Copa do Mundo 2022 “é a cara da riqueza”. Para receber as 32 seleções classificadas o evento e milhares de torcedores do mundo inteiro, foram construídos sete estádios, um novo aeroporto, metrô, estradas e 100 novos hotéis. Um espetáculo para os olhos!
 
Na cobertura diária feita pela mídia, com as transmissões dos jogos, novidades dos times e comentários, não faltam reportagens enaltecendo o tamanho dos estádios, a organização e detalhes sobre as instalações das concentrações dos países competidores (especialmente do Brasil, é claro!). Os registros sobre os protestos silenciosos dos jogadores, antes do início das partidas, contra o racismo e a homofobia, são sempre feitos an passant, como diriam os franceses. E segue o baile!
Mas e o outro lado desse “paraíso”? Com certeza a maioria possivelmente desconhece detalhes (e nem se interessa em conhecer). Mas você sabia que dos cerca de 3 milhões de habitantes dessa nação multimilionária, apenas 10% não é afetado pela pobreza? E que somente a pequena parcela catariana da população tem acesso a benefícios sociais, como auxílio-moradia, sistema de saúde e auxílio transporte?

Por trás da grandiosidade dos estádios de futebol e das obras que antecederam a Copa, existe um histórico de exploração de mão de obra, doenças e mortes de trabalhadores estrangeiros, vindos principalmente de Bangladesh, Índia, Nepal, Paquistão e Sri Lanka. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em torno de 6.500 trabalhadores morreram desde que o Catar foi escolhido para sediar a Copa do Mundo, por enfrentarem trabalhos pesados e longas jornadas de exposição ao sol escaldante. Os patrões mandam na vida dos imigrantes e há relatos de retenção de passaportes.

 E o sistema de “tutela masculina” que as muçulmanas são submetidas por lá? Pois é, no “Catar das Maravilhas” mostrado na TV, as mulheres precisam de permissão do pai, marido, irmão, ou outro tutor para casar, viajar e estudar no exterior, e também para trabalhar em empregos públicos. Igualmente para tratamentos de saúde reprodutiva e até exames ginecológicos. Além disso, são obrigadas a obedecer aos maridos. São criminalizadas todas as formas de sexo fora do casamento em até sete anos de prisão.Outro detalhe é que não existem leis punitivas contra a violência doméstica.

 A notícia mais estarrecedora foi divulgada essa semana, quando a economista mexicana Paola Schietekat, 27 anos, que trabalhava no Comitê Supremo da organização da Copa, ao denunciar ter sido vítima de estupro, foi condenada a 100 chibatadas e sete anos de cárcere, após o agressor alegar que ambos mantinham uma relação e ser liberado. Em suma, a culpa sempre recai na mulher.

Portanto, antes de se deslumbrar com as aparências, vale a máxima de que “nem tudo o que reluz é ouro”. Para muitos, esse tema pode ser irrelevante, ainda mais quando parece que tudo o mais perde a importância nesse período. Afinal, em época de Copa, se tiver churrasquinho e cerveja para “secar” os adversários e torcer pela Seleção Brasileira, está tudo bem! A prioridade é torcer pelo Brasil, não é mesmo?  Tudo o mais fica para depois...





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