A emoção da Palhaça Dorothy

A roupa e a maquiagem de palhaça há mais de um ano permaneceram guardadas, intactas. Porém, naquele domingo chuvoso, um motivo muito especial me fez decidir reviver a personagem. Eu iria participar de um evento beneficente em um asilo, promovido por um amigo muito especial, Henrique Leques, dos tempos do curso de manequim e modelo, em Porto Alegre, que hoje está à frente de uma das mais renomadas escolas de modelos da capital gaúcha.

Em 2013, cheguei a participar do desfile beneficente, mas esse ano decidi mais uma vez dar vida à Palhaça Dorothy. Minha intenção não era mais me apresentar aos idosos que podiam assistir ao evento, mas sim, aos acamados, cadeirantes, solitários, deprimidos, que permaneciam nos alojamentos. Eu queria levar a alegria da personagem, espalhar sorrisos, deixar uma mensagem de esperança e de fé, olhar nos olhos, apertar as mãos e distribuir abraços aos que passavam os dias à espera de uma visita, de palavras, ou gestos de carinho.

Imaginava que a iniciativa exigiria bastante energia e autocontrole das emoções, quando me deparasse com situações de abandono, de desinteresse pela vida. Por tudo isso, procurei chegar cedo na Spaan (Sociedade Porto-alegrense de Amparo aos Necessitados). Antes mesmo de começar a me arrumar para incorporar a personagem, orei. Sabia que precisava ser forte, e ao mesmo tempo, suave. À medida que iniciava a maquiagem multicolorida com purpurina, a Palhaça Dorothy foi tomando conta de mim e eu saí pulando, alcancei os corredores e fui visitando os alojamentos (ou melhor, a palhaça foi!).

Pedia licença, sorria e dizia que era portadora de alegria e esperança: “Nunca percam a fé, a alegria e a esperança. Aqui é uma comunidade, sejam solidários uns com os outros. Tenham amor no coração. O Universo sempre olha por todos nós”. Em cada pessoa, uma história e uma reação diferente. Para todos, indistintamente, palavras de incentivo. Em uma de suas últimas visitas, a palhaça foi surpreendida. 

Ao dizer que estava trazendo a alegria da palhaça e do circo, uma das residentes disse, lamentando: “Sabia que nunca fui no circo? Meu pai não deixou. E quando cresci, não tive mais oportunidade”. - Pois então, agora sei porque tinha que vir hoje aqui! Era pra trazer o circo até você! Viu? Nunca é tarde! Os olhos da idosa brilharam de felicidade e gratidão. Foi quando segurei as suas mãos e disse, olhando no fundo dos olhos, para que nunca perdesse a esperança e a fé. Depois a abracei e ambas nos emocionamos. 

Foi um dos momentos mais gratificantes que vivenciei na pele da Palhaça Dorothy. De doação, de coração. Sim, com certeza Dorothy haverá de ressurgir! Dorothy defende que o mundo precisa de atitudes humanistas, de comprometimento. Que basta começar. Fazer a parte de cada um. “Gotas de água, unidas, podem formar um oceano.”


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