Conto - Johnny e a bruxa do castelo

Essa é uma história estranha, de um castelo estranho, onde viviam uma bruxa e um menino mais estranhos ainda. Quando criança, sempre ouvia falar de castelos assombrados, bruxas narigudas, sempre envoltas com poções e sortilégios, que se locomoviam voando em vassouras. Quem já não leu algum livro, ou assistiu algum filme desse tipo?

Aquela figura feminina de voz desagradável, mexendo o caldeirão fumegante, com aquela gargalhada arrepiante... Pois é, mas a gente cresce e com o tempo essas narrativas vão caindo no esquecimento. No máximo, lembramos alguma comédia sobre o tema, rimos muito e só.
Poucos lembram das “bruxas do bem”, que dominam o conhecimento sobre ervas e unguentos que já salvaram muitas vidas, especialmente em cidades litorâneas de Santa Catarina. Mas, isso já é outra história...

Então, quando decidi viajar para a Inglaterra, nem me preocupei quando o guia turístico disse que iríamos visitar um célebre castelo medieval.

- Atenção, pessoal! Esse é um dos tantos que constam na lista dos “mal assombrados” do Reino Unido! Dizem que aqui viveu uma feiticeira muito poderosa e um menino, sequestrado por ela, chamado Johnny...

Inegavelmente, o lugar tem um aspecto assustador, mesmo para os mais corajosos, pensei, mesmo cético em relação a fantasmas. Mas o guia tinha decorado o texto do ponto turístico direitinho e seguiu com o roteiro.

- O castelo chegou a funcionar como hotel por um período, foi atração turística, no início do século 20, mas reza a lenda que muitos hóspedes ouviam vozes, ora de uma mulher, ora de um menino. Dizem que ele gritava e chorava, preso a ferros. Alguns juravam de pé junto que escutavam o garoto praguejar, enquanto arrastava as correntes. Dizem também que Johnny tinha permissão para sair e brincar apenas dentro dos portões da propriedade, antes do sol se por, mas que à noite voltava para o interior do castelo, onde era preso novamente. Como ele era um menino muito levado, a bruxa tinha medo que ele fosse embora e usava a magia para mantê-lo sob o seu domínio.

Inegavelmente, o lugar tinha um aspecto assustador, mesmo para os mais corajosos. Mas isso tudo com certeza é conversa fiada, uma estratégia das agências de viagens para atrair mais visitantes, pensei. Depois do final do city tour pelo condado, voltei para o hotel cansado, tomei um banho, peguei um livro para ler até o sono aparecer.

Nem me pergunte como, mas de repente me vi transportado até a área do castelo novamente. Assustado, fiquei do lado de fora dos portões e vi quando um menino, que devia ser o Johnny, desceu cuidadosamente por uma das janelas, correu até o portão e o escalou até pular para o lado de fora. Aí ele saiu em disparada pela estrada, iluminado pela luz da lua cheia. Pouco depois a bruxa apareceu na janela e soltou um grito agudo e arrepiante, revirou os olhos e tombou no chão. A essa altura, Johnny já estava longe...

No dia seguinte, pesquisei na internet sobre a Lenda da Bruxa do Condado. Descobri que meu sonho estava certo. A partir dali, toda vez que me perguntam,  passei a repetir que “Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay...


Crédito: Ilustração projetada pela Freepik.com - Foto gratuita.

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