A fábula televisiva
Ele “chegou chegando”
com seus dois metros de altura, ombros largos, andar gingado e olhando para
todos os lados, com o seu olhar penetrante. Estava vistosamente trajado. Usava um
conjunto branco bordado, mais parecendo um toureiro espanhol, pronto para
entrar na arena e encarar o touro. A franja caída em um dos olhos e a
fisionomia séria até poderiam causar certo medo, para quem não o conhecia, mas
seus olhos evidenciavam a doçura de um homem apaixonado. Estava pronto para se
dirigir ao altar, de onde surgirá a amada.
E lá vem a
noiva! Ela está rosa da cabeça aos pés, incluindo os cabelos, usa um vestido
longo e rodado, e tem um sorriso estampado no rosto, como uma princesa. O noivo
mal cabe em si de felicidade, ansioso para que os “salamaleques” da cerimônia
religiosa acabem logo e ele possa “voar” dali, levando seu grande amor na
garupa do cavalo, rumo à lua-de-mel...
E o coronel?
Ah, esse coronel!... E não é que parece mesmo Napoleão, com sua pose de dono do
mundo, seu olhar altivo, tom imperioso de voz e “palavriado” rebuscado? Lá está
ele, ao lado da mulher, aquela espalhafatosa! Ela mais parece uma rainha louca
dos contos de fadas, com suas roupas
multicoloridas, cheias de bordados, rendas, apliques, adereços e adornos, com aquela
gargalhada escandalosa e seus célebres “pitis”!
O dono da
venda vem logo depois, todo saltitante, agora que arranjou mulher nova (“e como
é nova!”, dizem os fofoqueiros de plantão!).
Ah, mas tem
o outro noivo também! Tão aristocrático, tão estudado, tão fino... e caído de
amores por aquela roceira xucra, que mal sabe escrever o nome! Vai entender os
mistérios e as peraltices de Cupido, não é mesmo?...
A igreja
estava lotada. E não era para menos! Com certeza aqueles dois casamentos seriam
lembrados por muitos e muitos anos naquela comunidade, tão bizarra quanto
fascinante...
Ah, mas como
esquecer aquele moleque travesso, que vive aprontando e que conquistou a todos
com sua irreverência e carisma? E a doce menina que está ao lado dele, que mais
parece uma boneca de louça, do tempo da bisavó, de tão perfeitinha?
Nessa cidade
onde o verde é mais verde, as flores têm um colorido mais vivo, os animais
vivem tranquilos no pasto e o céu é mais azul, a Esperança é prima da Felicidade
e, apesar de muitas vezes demorarem para se encontrar, ambas sempre correm
juntas!
E agora
aquele menino encantador está em seu quarto, segura uma casinha de madeira, a
coloca em uma superfície, onde pouco a pouco também vai colocando um a um, os
personagens mais marcantes... É interrompido pelo chamado da mãe e fica olhando
para os bonecos, com ar sonhador... até que se despede da platéia e sai de cena.
É,
Serelepe... Vai ser difícil esquecer “Meu Pedacinho de Chão”, essa fábula televisiva mais lúdica e inocente
dos últimos tempos!...
http://www.jdv.com.br/coluna/161/cronica--a-fabula-televisiva
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