Crônica - Sayonara!
A jornada até o desconhecido sempre
causa expectativa, principalmente quando se vai para um lugar de uma cultura
totalmente diferente da nossa. E mesmo quando se pesquisa, nada como chegar ao
destino para depois formar uma opinião, não é mesmo?
É incrível pensar que no dia em que se
comemorava a Independência do Brasil, no domingo de 7 de Setembro, eu estava
entrando de cabeça na cultura oriental, mais precisamente na japonesa, através
da visitação ao maior acontecimento do ano na colônia Celso Ramos, em Frei
Rogério, na microrregião do Contestado. Alguém aí já tinha ouvido falar que
Santa Catarina tem uma colônia de japoneses e seus descendentes, onde se produz
a maçã Fugi e a suculenta pera Nashi em grande escala? Não?! Nem eu...
A descoberta da presença de um espaço
nipo-brasileiro em terras catarinenses aconteceu durante as homenagens às
vítimas da bomba atômica no Japão, em Hiroshima e Nagasaki, na 2ª Guerra
Mundial, na celebração do Dia Mundial da Paz, em 6 de agosto, na sede da Fundação
Cultural. Durante a solenidade, uma carta escrita pelo sobrevivente de
Nagasaki, Wataru Ogawa, enaltecia a importância da paz e convidada os
jaraguaenses, para que conhecessem Frei Rogério na “Festa da Florada da Cerejeira, nos dias 6 e 7
de setembro”.
Pronto! Foi o que bastou para eu
buscasse informações sobre o município, como distância, opções de transporte...
Estava decidida em conhecer a festa e entrevistar o sobrevivente Ogawa. Foi aí
que surgiu a idéia de fretar uma van, angariar pessoas interessadas (O que?
Frei Rogério? Onde é isso?!) e contatar com o filho dele, Naoki, para avisar da
nossa chegada. E foi o que fiz.
As atrações do Parque Sakura, com suas
exuberantes flores, as apresentações no palco, a exposição e a cerimônia do chá,
tudo causou admiração! Sem falar na culinária japonesa, preparada na hora.
E se para muitos esses atrativos eram
mais do que suficientes, imagine conhecer um sobrevivente da bomba radioativa, o
Museu da Paz e o Museu do Sino da Paz? Posso dizer que foi um dos momentos mais
emocionantes da minha vida profissional, que já soma duas décadas.
Ao ver a figura frágil, porém
determinada, de Wataru Ogawa, fico impressionada com a doçura que ele transmite,
apesar de ter presenciado os horrores de uma guerra. Parece um daqueles vovôs
que vivem cercados dos netos, com muitas histórias para contar.
No lugar de rancor, amor. No lugar de
guerra, entendimento para uma solução pacífica. Em suma, foi essa a mensagem de
Wataru Ogawa, que pacientemente aguardou os visitantes e se colocou à
disposição para responder perguntas.
Quando chegou a minha vez, o cansaço
era visível em seu semblante, mas mesmo assim se dispôs a falar, intermediado pelo
filho, no papel de intérprete.
Pergunto sobre detalhes de sua
trajetória e descubro que seus antepassados eram budistas. Decido doar o meu
livro, que tem inspiração na linha japonesa Nitiren Daishonin, e ele faz menção
de lembrar do nome, sorrindo com benevolência.
A entrevista chega ao fim. Seguro suas
mãos em despedida, uno as minhas em saudação e o reverencio com a cabeça, com
profunda gratidão. Sayonara, Wataru Ogawa! Sayonara, Sakura Matsuri!
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