CONTO - Suzete, a periguete
Ela sai do
escritório com um olhar malicioso, brilhante de expectativa e cheio de
promessas. Nem acredita que o fim de semana está começando. Chega em casa
correndo, vai para o banho e depois fica um tempão na frente do espelho,
fazendo escova no cabelo. A pele parece cansada e as olheiras denunciam as
poucas horas dormidas na noite anterior.
- Nada que
uma boa maquiagem não dê um jeito! Me aguardem!, pensa Suzete, a periguete, com
a imaginação a mil e um sorriso enigmático. Sente-se uma predadora, prestes a
dar o bote... Ainda enrolada na toalha, vai para o quarto escolher o modelito
de sexta-feira. Abre o guarda-roupa e fica conferindo os micro vestidos e as
microssaias.
A noite promete
ser gelada, mas cogita a possibilidade de mostrar as pernas e os seios
siliconados. Olha para o jeans e o sobretudo, mas logo tira a ideia da cabeça.
- Nem
pensar! Não gastei o salário do mês inteiro nesses vestidos de marca para
deixar no armário! Hoje eu vou vestida para matar! Hahaha!
Suzete, a
periguete, fica em dúvida entre o sapato preto de salto agulha, a bota cano
curto de couro marrom, ou a bota de camurça preta, de cano alto. Decide pela
bota de cano alto, veste o micro vestido prata de paetê, a meia-calça cor da
pele e se prepara para a maquiagem.
- Vou chegar
chegando, ‘causando’! Ah, se vou! O Amilton vai ver o que ele perdeu!, fala
para si mesma, com raiva, enquanto capricha na base, na sombra cintilante e no
contorno dos olhos. Sem esquecer do batom vermelho e do gloss. Depois escolheu
o perfume de lançamento de uma griffe francesa e começou a espalhar pelas
orelhas, pulsos, por entre os seios..
- Agora só
falta mais uma ajeitada nesse cabelo... Assim! Aiii, cadê o reparador de
pontas? Ah, achei! Uau, perua! É hoje que você vai arrasar na balada!, diz,
enquanto se olha no espelho, seu cúmplice dos bons e dos maus momentos, das
horas de euforia e de profunda tristeza.
Logo após se
vestir, se dirige ao espelho grande da sala e se olha de cima a baixo. Gosta do
que vê e passa a beijar os ombros de aprovação. Solta uma gargalhada ao lembrar
da Valesca Popozuda, começa a dançar e cantar em frente ao espelho.
- ♬ Beijinho no ombro pro recalque passar longe,
Beijinho no ombro só pras invejosas de plantão.
Beijinho no ombro só quem fecha com o bonde,
Beijinho no ombro só quem tem disposição... ♬
Beijinho no ombro só pras invejosas de plantão.
Beijinho no ombro só quem fecha com o bonde,
Beijinho no ombro só quem tem disposição...
O
celular toca e Suzete, a periguete, atende. Já estava esperando pela ligação,
que chegou em boa hora.
- E aí,
Fafá? Eu já tô, sim! Aperta no interfone quando chegar. Ou buzina, então! Ok,
ok, não demora, porque Ladies Free é
só até às 23 horas, não esquece!
A
buzina toca e Suzete, a periguete, desce as escadas correndo, entra no carro da
amiga e as duas rumam para a balada. Ao atravessar
a porta da boate, ela circunda o lugar com os olhos, como a procurar alguém, se
deliciando com o fato de estar chamando a atenção dos homens, ao mesmo tempo
que recebia olhares fulminantes das mulheres.
- É
hoje! A noite promete!, pensa Suzete, a periguete, enquanto se dirige para o
centro da pista, desfilando e distribuindo sorrisos.
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