Conto - Alice no País da Sedução
O salão do clube estava iluminado e enfeitado com muito
brilho, lotado de foliões. A decoração trazia rostos fosforescentes, de palhaços,
baianas, piratas, colombinas e pierrôs, contornados com fitas e adornos de
múltiplas cores. Cavalheiros e damas se movimentavam ao som da orquestra, que
tocava marchinhas carnavalescas, maxixes e clássicos do samba em seus
primórdios. Estavam vestidos com muito lamê, rendas e brocados, plumas e
paetês. As mulheres usavam jóias, muitas jóias...
“Quanto riso, oh quanta alegria! Mais de mil palhaços
no salão... ♫”
Era uma festa ambientada para reviver os antigos
carnavais da alta sociedade carioca. Tudo ali conduzia ao contentamento, e
Alice, que recém havia escapado do País das Maravilhas, surgiu ali, naquela
terra estranha, exótica, absolutamente original. Nunca tinha imaginado, muito
menos visto nada parecido. Por isso permaneceu parada, observando discretamente,
em dúvida se deveria entrar no salão, ou continuar espiando de fora. Não queria
ser o centro das atenções.
- Que lugar é esse que fala essa língua estranha?! E
por que todo esse calor?!
Nas mesas e no balcão de bebidas, os foliões entornavam
os copos de cerveja, vodka, rum... Não se sentia somente no lugar errado. Sentia
que havia avançado no tempo também, e isso a assustava ainda mais.
Nada de Chapeleiro Louco, com suas ideias originais,
nem do Coelho (Não tenho tempo, não tenho tempo! Já está na hora do chá?), muito
menos da desvairada Rainha (Cortem-lhe a cabeça!)... No lugar da floresta
encantada, com animais falantes e dramas semelhantes aos dos humanos, pessoas
que pareciam focadas única e exclusivamente na satisfação dos sentidos...
Um rei bem nutrido de estatura mediana e vestindo
roupas espalhafatosas circulava com seu séquito, saudando a todos. Segurava uma
enorme chave em uma das mãos. Alice ficou se perguntando de que reino seria
ele...
Homens e mulheres mascarados dançavam e pulavam rodopiando,
sozinhos, em grupo, ou formando “trenzinhos” que cortavam o grande salão. Em um
dos momentos, Alice flagrou o olhar sedutor de uma mulher por trás do leque
preto, ricamente bordado com pedrarias. Flertava com um homem do outro lado da
pista. A nata da sociedade estava ali. Tudo muito elegante, muito fino, muito cool...
Passados alguns minutos, um homem que vestia um impecável
black tie abordou Alice, tímida e ainda
indecisa se iria participar da festa. Fez um gesto com as mãos apontando para a
pista de dança, convidando-a a entrar.
Alice se vira para o homem, assustada. E enquanto
procura se decidir, circunda com o olhar tudo à sua volta. Do fim da rua chega um
som contagiante de batucada, de tambores, pandeiros e violões. Junto a eles
estão homens e mulheres que dançam passos ritmados e desenvolvem movimentos
sensuais em uma simbiose perfeita. Uma alegria genuína parece tomar conta de
todos eles.
Absolutamente fascinada pela cena, Alice
involuntariamente sai da porta do salão e vai de encontro ao grupo de
carnavalescos, para espanto do homem engomado de black tie...
- Já sei! Eu deixei O País das Maravilhas e agora estou
no País da Sedução! Aqui está bem melhor que naquele salão!, sussurra Alice
para si mesma, com os olhos brilhantes e um largo sorriso. Estava decidida a se
aproximar do grupo e a tentar aprender alguns passos daquele ritmo eletrizante.
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