Crônica - Sim, nós temos carnaval em Jaraguá do Sul!
O sábado de
carnaval amanheceu chuvoso. A expectativa dos que lutam para manter viva a
tradição da festa mais popular do Brasil era grande. Muitos acreditavam que o
desfile da Avenida Walter Marquardt não sairia, apesar da garantia da Fundação
Cultural de que a Folia de Momo seria mantida. Considerando que muitos foliões e
parte do público residem longe do local do desfile, e que dependem de
transporte público, a preocupação era justificada.
E eu, que tive a grata surpresa de ter sido convidada a
desfilar no bloco "Convidados do Movimento da Consciência Negra do Vale do
Itapocu (Moconevi)", estava nervosa, na maior expectativa, com a certeza de que
seria um momento marcante da minha vida. E foi!
Conheço os fundadores do Moconevi desde o início, em
5 de agosto de 2001. Acompanhei a
trajetória do movimento e dos integrantes em suas árduas batalhas pela
conquista gradativa de espaço social e respeito da comunidade, como jornalista
e cidadã.
Nunca me esqueço de um evento promovido no palco da
Praça Ângelo Piazera, hoje desativado, quando os integrantes distribuíram rosas
aos que chegavam. Me lembro que comentei com uma das fundadoras: “Vocês estão
em busca de um resgate e ao mesmo tempo estão presenteando as pessoas. Que
lindo gesto, parabéns!”.
Me lembrei de pessoas queridas, como o casal Jandira e
Ulysses, que apesar da distância geográfica, há muitos anos mantenho sólidos
laços de amizade.
Enquanto caminhava em direção ao Parque Municipal de Eventos,
para a concentração dos blocos, um filme passava na minha frente... Na noite
anterior, durante o ensaio, o acaso me fez entrar na eletrizante bateria do
Moconevi. Treinei no chocalhinho com afinco, observando os demais e me
empolgando, à medida que pegava o jeito...
Finalmente chegou o grande momento! Visto o uniforme
dos componentes da bateria, seguro o instrumento sonoro e me dirijo para a
avenida! A chuva atrapalhou um pouco, mas nem de longe tirou o brilho do
carnaval jaraguaense no quesito animação. Quem esteve lá, viu e pode confirmar.
Meu coração transbordava de contentamento. Como resumiu meu filho Felipe: “Mãe,
parecia uma criança que ganhou um picolé!”.
E o que falar do show oferecido pela bateria do
Moconevi à plateia de foliões? Estávamos todos inundados pela alegria, com cada
célula vibrando, iluminados pela magia contagiante do autêntico carnaval de rua
brasileiro, inigualável, irmanados na mesma vibração.
Depois de tantos anos atuando como repórter nos
plantões de carnaval, finalmente eu estava ali, não mais do lado de fora, mas
sim, participando ativamente, pulando, dançando e sacudindo o chocalhinho,
sorrindo para o público, vencendo a timidez...
Quem não foi, com certeza perdeu um espetáculo
grandioso, genuinamente popular. Pessoalmente, valorizo muito mais o carnaval
de raiz, apresentado por blocos, do que os que apresentam luxo e pompa “pra
inglês ver”...
Nostálgica? Talvez... Mas sei que não estou sozinha
nisso, porque é cada vez mais crescente o movimento de resgate dos antigos
carnavais, que notabilizaram compositores atemporais, como a maestrina
Chiquinha Gonzaga e sua eterna criação “Oh abre alas que eu quero passar!”.
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