Conto - As mais preciosas flores do reino
Essa história quem me contou foi a minha avó Albertina.
Eu devia ter uns seis anos. Uma vez, enquanto passeava pelo jardim para colher
crisântemos, vovó me chamou para sentar ao lado dela, no banco debaixo do
parreiral. Era uma manhã de sol. As árvores pareciam mais verdes e as flores
mais coloridas e cheirosas. Lembro que tinha chovido muito uns dias antes e por
isso o jardim estava encharcado, com grandes poças d’água. Os meus sapatos ficaram
enlameados. Justamente os sapatos novos, presente da minha madrinha!
- Gardênia, vem logo para cá! Já tem crisântemos que
chega para o vaso da sala! Olha o estado dos teus pés, menina! E essas meias
brancas? Ai, ai ai... Vai trocar logo esse calçado e essas meias e depois senta
aqui, que quero te contar uma história...
Fui correndo tirar as meias e os sapatos molhados e me
sentei ao lado da avó Albertina. Ela sempre me contava histórias cheias de
encantamento, que me faziam viajar pelos quatro cantos do mundo. Me sentia
visitando lindos palácios, terras férteis e áridas, desertos e povos nômades, culturas
clássicas e exóticas, do Velho e do Novo Mundo...
Naquele dia, ela prometeu me contar a história de três princesas
- uma negra, uma ruiva e uma loira - irmãs por parte de pai, que moravam em um
palácio de um reino muito distante. E ela contou que as meninas eram órfãs de
mãe, frutos de três esposas do
rei Maximus. Tão severo era o rei, na
época, que as três esposas o haviam abandonado pouco tempo depois do nascimento
das herdeiras.
Assim, as irmãs Margarida, Violeta e Jasmim cresceram
juntas. E como haviam enfrentado o mesmo drama do abandono, se tornaram muito
unidas. Para compensar a solidão das filhas, o rei, que viu o coração amolecer
com a chegada delas, decidiu contratar os mais renomados mestres para educá-las.
Queria que elas aprendessem sobre todas as áreas do conhecimento. Sempre dizia
que elas eram “as mais preciosas flores do reino”.
Margarida preferia as ciências matemáticas e as descobertas
científicas, enquanto Violeta gostava das aulas de História e Geografia. E
Jasmim gostava de ler fábulas e contos de civilizações antigas, poemas,
romances e de escrever as próprias histórias, que guardava a sete chaves,
dentro da caixinha de música.
Um dia, a Guarda Real foi surpreendida pelo ataque de
bárbaros, que saquearam o palácio, renderam os soldados e mataram o rei. As
três meninas, agora adolescentes, ouviram tudo apavoradas e rumaram para o
esconderijo do palácio. Se abraçaram chorando a morte do pai e dos súditos mais
fieis.
Astutas, usaram os conhecimentos adquiridos para
planejar a fuga , sobreviver e vencer. Prática, Margarida pegou um mapa.
Violeta sugeriu que se vestissem de escravos e imitassem a voz e gestos
masculinos. Jasmim concordou e completou que deveriam sair do esconderijo depois
de todos os ruídos cessassem, de modo que nenhum dos sobreviventes do palácio soubesse
que elas saíram camufladas. Assim, elas sobreviveram e alcançaram um outro
reino, onde foram recebidas com honras e passaram a ser conselheiras de
estratégia política e territorial.
Fiquei maravilhada e nunca esqueci a lição. É por isso
que digo, minha netinha, que a solução começa pela Educação. É a melhor maneira
de se defender e crescer nessa vida!
Comentários
Postar um comentário