Crônica - Um Dia do Trabalho em Buenos Aires

A viagem à "Terra do Tango" já estava programada há alguns meses. Cheguei por volta das 12h em Buenos Aires. Ao me encontrar com os amigos portenhos, logo me conduziram à Plaza de Mayo, tradicional palco de grandes manifestos populares durante as comemorações pelo Dia do Trabalhador. Afinal, foram os argentinos que criaram o hábito de protestar com “panelaços” em protesto contra as crises econômicas e medidas  governamentais. Quem não se lembra das “Madres de la Praza de Mayo”, que exigiam informações sobre os filhos desaparecidos na década de 1970, durante a ditadura militar?

Porém, qual não foi minha surpresa ao chegar no local, em frente à Casa Rosada, e ver apenas alguns poucos cartazes de sindicatos, com cadeiras vazias. O cenário estava sendo desmontado tranquilamente. Onde estavam os sindicalistas, as mães da Praça de Maio, os trabalhadores e estudantes que não protestavam mais? Já tinham se dispersado... Restavam apenas famílias passeando tranquilamente com as crianças, idosos a andar sem pressa e alguns turistas, inclusive eu, clicando fotos... E em meio aos monumentos e prédios históricos no entorno, pombos, muitos pombos ciscando e sobrevoando os visitantes...

Perguntei a um morador local e ele me comentou que hoje até os sindicatos estão divididos. E as mães da Praça, que comoviam a todos, ultrapassando as fronteiras argentinas? Me disse, com desencanto, que as madres y abuelas de outrora, tão respeitadas, hoje caíram em descrédito. Um exemplo disso é Hebe de Bonafini, que de lutadora contra a ditadura militar e pelos direitos humanos, passou a criticar os juízes e fiscais que investigam casos de corrupção do governo da presidente Cristina Kirchner.

Já em frente à Casa Rosada, a residência oficial da presidente da República Argentina, se tornou a atração do feriado, especialmente no momento da esperada troca da guarda nacional, semelhante ao cerimonial da troca da Guarda Real, em Londres. Estranho pensar que o tom rosado das paredes da morada presidencial foi alcançado por meio da insólita mistura de cal e sangue bovino... Me perguntei se essa circunstância não seria uma marca nada auspiciosa para os que passaram pela cadeira presidencial...

O monumento em homenagem a San Martin, segurando a Bandeira Argentina, em frente à Casa Rosada, foi um dos preferidos pelos turistas para registrarem em fotos, especialmente as selfies, no final da manhã do 1º de maio. Outro ponto que convergiu as atenções dos visitantes católicos foi a catedral. Lá dentro está uma homenagem ao ex-cardeal Jorge Mario Bergoglio, hoje papa Francisco, apontado como um dos líderes espirituais mais respeitados da atualidade, até pelos que professam outras crenças.

Dali, saí a percorrer outros espaços da bela Capital da Argentina, acolhedora e encantadora, considerada a mais européia da América do Sul, mesmo com a combalida economia, por conta dos altos índices inflacionários e dos impasses políticos. Aliás, problemas econômicos e políticos não ocorrem unicamente na terra de Carlos Gardel, não é mesmo?


Enfim, foi um 1º de maio diferente, atípico, marcante e inesquecível, proporcionado por pessoas hospitaleiras, solícitas e calorosas: Muchas gracias, amigos!

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